4º Domingo - Tempo Comum – Ano B - 28 Janeiro 2018
A liturgia deste Domingo garante-nos que Deus não se conforma com os
projectos de egoísmo e de morte que desfeiam o mundo e que escravizam os homens
e afirma que Ele encontra formas de vir ao encontro dos seus filhos para lhes
propor um projecto de liberdade e de vida plena.
LEITURA I – Deut 18,15-20
A primeira
leitura propõe-nos – a partir da figura de Moisés – uma reflexão sobre a experiência
profética. O profeta é alguém que Deus escolhe, que Deus chama e que
Deus envia para ser a sua “palavra” viva no meio dos homens. Através dos
profetas, Deus vem ao encontro dos homens e apresenta-lhes, de forma bem
perceptível, as suas propostas.
A vocação
profética é uma vocação que surge por iniciativa de Deus. Ninguém é profeta por
escolha própria, mas porque Deus o chama. O profeta tem de ter consciência,
antes de mais, que é Deus quem está por detrás da sua escolha e do seu envio. O
profeta não pode assumir uma atitude de arrogância e de auto-suficiência, mas
tem de se sentir um instrumento humilde através do qual Deus age no mundo.
O profeta
descobre a necessidade de levar muito a sério a missão que lhe foi
confiada. O testemunho profético não é um passatempo ou um compromisso
para as horas vagas; está fora de causa o cruzar os braços e deixar correr.
Trata-se de um compromisso que deve ser assumido e vivido com fidelidade
absoluta e total empenho.
Ele não pode
utilizar a missão em benefício próprio; não deve ceder à tentação de se vender
aos poderes do mundo e pactuar com eles, a fim de concretizar a sua sede de
poder e de protagonismo, não pode “vender a alma ao diabo” para daí tirar algum
benefício, não deve utilizar o seu ministério para se exibir, para ser
admirado, para conseguir sucesso, para promover a sua imagem e obter os
aplausos das multidões. A missão profética tem de estar sempre ao serviço de
Deus, dos planos de Deus, da verdade de Deus, e não ao serviço de esquemas
pessoais, interesseiros e egoístas.
LEITURA II – 1
Cor 7, 32-35
A segunda
leitura convida os crentes a repensarem as suas prioridades e a não
deixarem que as realidades transitórias sejam impeditivas de um verdadeiro
compromisso com o serviço de Deus e dos irmãos.
Não se trata de propor uma evasão do mundo e uma espiritualidade descarnada,
insensível, alheia ao amor, à partilha, à ternura; mas trata-se de avisar que as realidades desta terra não podem ser
o objectivo final e único da vida do homem. Esta reflexão convida-nos a
repensarmos as nossas prioridades, e a não ancorarmos a nossa vida em
realidades transitórias.
A virgindade
consagrada, por amor do Reino, nem sempre é um valor compreendido, à luz dos
valores da nossa sociedade. Paulo, contudo, sublinha o valor da virgindade como
valor autêntico, pois anuncia o mundo novo que há-de vir e disponibiliza para o
serviço de Deus e dos irmãos. É sinal de desprendimento, de doação, de
disponibilidade e deve ser positivamente valorizada. Aqueles que são chamados a viver
dessa forma não são gente estéril e infeliz, alheia às coisas bonitas da vida,
mas são pessoas generosas, que
renunciaram a um bem (o matrimónio) em
vista da sua entrega a Deus e aos outros.
EVANGELHO –
Mc 1, 21-28.
Evangelho
mostra como Jesus, o Filho de Deus, cumprindo o projecto libertador do Pai,
pela sua Palavra e pela sua acção, renova e transforma em homens livres todos
aqueles que vivem prisioneiros do egoísmo, do pecado e da morte.
O “homem com um
espírito impuro” representa todos os homens e mulheres, de todas as épocas,
cujas vidas são controladas por esquemas de egoísmo, de orgulho, de
auto-suficiência, de medo, de exploração, de exclusão, de injustiça, de ódio,
de violência, de pecado.
É essa
humanidade prisioneira de uma cultura de morte, que percorre um caminho à
margem de Deus e das suas propostas, que aposta em valores efémeros e
escravizantes ou que procura a vida em propostas falíveis ou efémeras.
O Evangelho de
hoje garante-nos, porém, que Deus não desistiu da humanidade, que Ele
não Se conforma com o facto de os homens trilharem caminhos de escravidão,
e que insiste em oferecer a todos a vida plena.
Para Marcos, a
proposta de Deus torna-se realidade viva e actuante em Jesus. Ele é o Messias
libertador que, com a sua vida, com a sua palavra, com os seus gestos, com as
suas acções, vem propor aos homens um projecto de liberdade e de vida. Ao
egoísmo, Ele contrapõe a doação e a partilha; ao orgulho e à auto-suficiência,
Ele contrapõe o serviço simples e humilde a Deus e aos irmãos; à exclusão, Ele
propõe a tolerância e a misericórdia; à injustiça, ao ódio, à violência, Ele
contrapõe o amor sem limites; ao medo, Ele contrapõe a liberdade; à morte, Ele
contrapõe a vida.
Os discípulos
de Jesus são as testemunhas da sua proposta libertadora. Eles têm de continuar
a missão de Jesus e de assumir a mesma luta de Jesus contra os “demónios” que
roubam a vida e a liberdade do homem, que introduzem no mundo dinâmicas
criadoras de sofrimento e de morte. Ser discípulo de Jesus é percorrer o mesmo
caminho que Ele percorreu e lutar, se necessário até ao dom total da vida, por
um mundo mais humano, mais livre, mais solidário, mais justo, mais fraterno. Os
seguidores de Jesus não podem ficar de braços cruzados, a olhar para o céu,
enquanto o mundo é construído e dirigido por aqueles que propõem uma lógica de
egoísmo e de morte; mas têm a grave responsabilidade de lutar, objectivamente,
contra tudo aquilo que rouba a vida e a liberdade ao homem.
O texto refere
o incómodo do “homem com um espírito impuro”, diante da presença libertadora de
Jesus. O pormenor faz-nos pensar nas reacções agressivas e intolerantes – por
parte daqueles que pretendem perpetuar situações de injustiça e de escravidão –
diante do testemunho e do anúncio dos valores do Evangelho. Apesar da
incompreensão e da intolerância de que são, por vezes, vítimas, os discípulos
de Jesus não devem deixar-se encerrar nas sacristias, mas devem assumir corajosamente
e de forma bem visível o seu empenho na transformação das realidades políticas,
económicas, sociais, laborais, familiares.
A luta contra
os “demónios” que desfeiam o mundo e que escravizam os homens nossos irmãos é
sempre um processo doloroso, que gera conflitos, divisões, sofrimento; mas é,
também, uma aventura que vale a pena ser vivida e uma luta que vale a pena
travar. Embarcar nessa aventura é tornar-se cúmplice de Deus na construção de
um mundo de homens livres.
Fonte: resumo e adaptação local de um texto
de “dehonianos.org/portal/liturgia”
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