segunda-feira, 7 de maio de 2012

Carta pública da CIRM/CONFEREMO sobre a onda violenta contra as casas religiosas em Moçambique


Maputo, 07 de maio de 2012

Caros Irmãos e Irmãs.

Lamentavelmente, a onda de assaltos às casas religiosas em Moçambique fez a sua primeira vítima fatal. Na última quinta feira, dia 03 de maio, os padres da Consolata foram assaltados em sua missão na Paróquia de Santa Teresinha do Menino Jesus, em Liqueleva, Matola. O assaltantes agrediram violentamente o Padre Valentim Camal, que teve traumatismo craniano e veio a falecer a caminho do hospital por parada cardiaca. O funeral será realizado na sua terra natal, na província de Cabo Delgado entre terça ou quarta feira, data a confirmar. Hoje, dia 7 de maio às 18h, será realizada uma missa de corpo presente na Paróquia de Santa Teresinha do Menino Jesus - Liqueleva.
Nos ultimos tempos, várias casas religiosas em todo o país tem sido vitimadas pela ação dos assaltantes. Na maioria das vezes, usam de violência para alcançarem seus objetivos, e o piór exemplo disso aconteceu na quinta-feira passada. Na busca de auxilio das forças públicas de segurança, a maioria das vitimas se deparam com problemas constrangedores.
Nós, religiosos e religiosas, trabalhamos sem fins lucrativos, dedicando a nossa vida e serviço para o bem do povo moçambicano, tanto em nível material como espiritual; dando atenção especial aos mais desprotegidos da sociedade.
Nesta situação, levantamos a nossa voz junto com a maioria do povo moçambicano, que busca o seu sustento honestamente, dia a dia, sol a sol; e que sofre nas ruas e nas suas casas desse mesmo problema da insegurança. Llevantamos a nossa voz para dizer basta!
Tornamos pública aqui a nossa indignação e o nosso protesto quanto a violência  que assola o país de diversas formas, vitimando pessoas inocentes e ceifando vidas. O tráfico de órgãos e de pessoas, a violência sexual, os recentes casos de sequestros, os homicidios, os latrocínios, enfim, são distintas as faces da violência em nosso país que torna o cidadão de bem em refém na sua terra, na sua própria casa.
Não podemos imaginar o desenvolvimento de um país sem levar em conta os elementos fundamentais para o desenvolvimento do ser humano; que não é descartável, pelo contrário: a vida humana é muito mais valiosa do que qualquer megaprojeto ou investimento financeiro.
E entre os vários elementos que devem colocar a dignidade da pessoa humana em primeiro lugar -e não o lucro-, a segurança pública é um deles. Queremos chamar a atenção do poder publico, que tem o dever constitucional de promover a segurança do seu povo, e não apenas de forma paliativa depois  dos fatos terem ocorrido, mas sim preventiva e investigativa. E isso requer um maior comprometimento das autoridades para minimizar essa situação beligerante que a sociedade civil está vivendo. Uma melhor qualificação dos agentes de segurança; uma remuneração mais justa, pois também são chefes de família; equipamentos atualizados e adequados; maior contingente de pessoal e brigadas colocadas estrategicamente nos bairros; enfim, são muitos os elementos que devem ser levados em conta para melhorar o serviço dos agentes de segurança em prol da população. Mas nada disso será suficiente se não tivermos um sistema prisional e judiciário mais eficiente e realmente justo, incluindo aí o ministério público.
Também queremos chamar a atenção de toda a sociedade civil, para que tomem atitudes pró-ativas no que se refere a sua segurança pessoal e dos seus familiares, e no rompimento do ciclo da violência. Isso quer dizer que a omissão, a conivência e a justiça pelas próprias mãos só pioram a situação e devem ser evitadas. Devemos sim, como cidadãos, cobrar do poder público o cumprimento do seu dever constitucional, tendo em mente que o estado deve estar a serviço da população, e não o contrário.
Queremos apelar aos diversos setores da sociedade civil, instituições, organizações não governamentais, os meios de comunicação e a todas as pessoas de bem, para somarmos forças na reflexão e no debate quanto as causas da violência, na fiscalização da ação do estado, e na criação de mecanismos e estratégias que visem a conciencialização da sociedade quanto ao seu papel na defesa da dignidade da pessoa humana em Moçambique. 
Que a morte do Pe.Valentim e de tantas outras pessoas, pais e mães de família, jovens e crianças vitimadas pela violência em nosso país, possam nos motivar na busca de soluções novas a velhos problemas, para construirmos um país mais justo e melhor, onde reine a fraternidade e a verdadeira paz.

Unidos pelo Salvador.

Pe.Paulo Nadolny,svd
Presidente da Cirm-Conferemo Nacional


Pe.Ederaldo Macedo de Oliveira,sds
Secretário Geral da Cirm-Conferemo Nacional

Sem comentários:

Enviar um comentário